sexta-feira, 18 de maio de 2018

Trabalho, Tecnologia e Solidariedade foi lançado na noite de ontem

Trabalho, Tecnologia e Solidariedade: agricultores familiares do semiárido brasileiro que superam o modelo tradicional de negócio

Livro que conta a a trajetória de agricultores e agricultoras familiares do Semiárido brasileiro, no interior do PI, revela a potência da Economia Solidária e da Tecnologia Social como ferramentas para a construção de uma nova sociedade, com inclusão social e produtiva. São milhões de pessoas que hoje estão à margem do processo criativo e produtivo, e que pela organização social e política, podem construir o Desenvolvimento Sustentável que queremos para o nosso país.


Mais detalhes do livro e como adquiri-lo:
http://loja.insular.com.br/product_info.php/products_id/1147


Abaixo, segue texto com referência sobre a motivação de ter produzido esse livro, e que apresentei no evento de lançamento.

Minhas motivações para produzir esse livro: Afirmação, Disputa e Resistência

A Motivação pela Afirmação

1. A afirmação do percurso de intelectual e de militante. Essa minha trajetória foi construída nos movimentos sociais, sindicais e políticos que participei e militei, desde a juventude.

Já em Brasília, tive a oportunidade de trabalhar na Fundação BB, em parceria com grandes figuras, como Jacques Pena e Jorge Streit, entre tantos outros companheiros valiosos.

Construímos um trabalho focado na geração de trabalho e renda, com ênfase nas regiões mais pobres do Nordeste, o que fica evidenciado no livro, com a descrição do Vale do Rio Guaribas, no interior do PI.

Conhecer aquela realidade me intrigou e me levou a estudar sobre aquele processo de desenvolvimento que participávamos, isso no mestrado, entre 2009/2010. E, com o incentivo do meu professor e desorientador, Ricardo Neder, trabalhei desde o ano passado na edição desse livro.

2. A afirmação dos agricultores e agricultoras familiares e das instituições públicas: personagens e instâncias que me surpreenderam. Pois toda a retórica e entendimento do senso comum é que tudo é difícil de mudar: que a cultura “deles”, do rural, não permite rompimento com o estabelecido, fruto da pobreza profunda daquela região nordestina; e que a burocratização das instituições públicas é crônica.

No entanto, os agricultores e agricultoras mudaram sim a sua realidade e a realidade em seu entorno, o que conto no livro. Saíram de um estado de semiescravidão, e construíram de fato uma nova economia; deixaram o passado de meia dúzia de donos e comerciantes de mel e caju, para mais de mil famílias serem as protagonistas da produção, beneficiamento e comercialização dos frutos de seu trabalho, por meio de um sistema complexo de cooperativas e centrais de comercialização. A Cocajupi e a Casa Apis são a expressão dessa revolução silenciosa ocorrida no Semiárido brasileiro.

Da mesma forma, a partir de 2003, aconteceu uma mudança com um punhado de instituições: Embrapa, Emater e outros órgãos nos Estados, Codevasf, CONAB, BNDES, o próprio BB, Ministérios e tantos outros. Os dirigentes dessas organizações estavam comprometidos na busca de alianças e na superação das barreiras burocráticas, o que possibilitou um avanço jamais visto, um entrosamento entre entidades do Estado e as cooperativas que floresciam naquele período.

3. A afirmação das políticas públicas do governo Lula. E essa química que aconteceu, entre agricultores e instituições, só foi possível porque houve uma determinação de governo, para que houvesse um olhar e a construção de políticas públicas para superação da miséria e da pobreza, por meio da inclusão social e produtiva. Esse é o grande mérito dos governos Lula, e seguido por Dilma.

Poderíamos expor um rosário delas: Pronaf, PAA, Penae, Territórios da Cidadania, Pronera, ATER, entre outras políticas fundamentais, inclusive de âmbitos estaduais incentivadas pelo governo federal.

A Motivação pela Disputa

1. A disputa pela Economia Solidária. Ela precisa ser entendida não como uma política e diretriz dirigida aos pobres, mas sim, como a solução econômica viável na iminente etapa de destruição total provocada pelo capitalismo. O mundo do trabalho é o paradigma da nossa sociedade e, para existir trabalho e renda é condição a participação do trabalhador como personagem ativo e determinante na sociedade, como exemplifico no livro, contando os resultados dos empreendimentos econômicos e solidários da Casa Apis e da Cocajupi.

Hoje, no Brasil, temos uma massa de PIA – pessoas em idade ativa para o trabalho em mais de 160 milhões. Temos apenas 33 milhões em empregos formais, e uns 34/35 milhões em empregos informais declarados. Quer dizer, temos quase 100 milhões de brasileiros “dando um jeito”, todos os dias, para não morrer de fome.

Fazer da Economia solidária uma estratégia de desenvolvimento e de inclusão social, parece-me, é o desafio colocado neste momento.

2. A disputa pela Tecnologia Social. Ela é a composição fundamental para a Economia Solidária, como diz o professor Dagnino, da Unicamp: é a plataforma de lançamento do foguete da outra economia.

A agroecologia, as construções sustentáveis, os circuitos curtos de produção e consumo, os sistemas de gestão participativa na produção, o processo cooperativo e solidário de autogestão como um todo, são os instrumentos que precisam contar com investimentos de políticas públicas, para promover a geração e distribuição de riqueza, para um contingente enorme de trabalhadores excluídos do processo produtivo.

Da mesma forma que precisamos de uma outra economia, precisamos de uma outra tecnologia. Porque toda tecnologia e todo o investimento científico, para seu desenvolvimento, são resultados de uma decisão política. Assim, precisamos de uma ciência e tecnologia que promova o ser humano e o meio ambiente, e não o lucro das corporações.

3. A disputa pelo Desenvolvimento Sustentável: a cada dia o aspirador de pó do capital suga as riquezas comuns – porque se o alimento é um commodity, na visão capitalista, a água também será transformada – fazendo com que muitos não tenham acesso.

A privatização dos bens comuns segue forte, então, é preciso fazer essa disputa sobre o tipo de sociedade que queremos: a sociedade a serviço apenas do 1% ou uma sociedade para todos e todas que navegam nessa nave?

Com a vivência que tive junto aos agricultores do PI, pude entender isso muito bem!

A Motivação pela Resistência

1. A resistência é necessária nessa conjuntura. Infelizmente caímos no abismo. E pior, parece que o buraco não tem fim. A cada dia mais direitos são sequestrados e um contingente enorme de pessoas são jogas à margem da sociedade, sem direitos, sem trabalho, sem entender o que ocorre, porque na rede Globo e para o governo golpista, o Brasil está superando a crise. “O Brasil voltou 20 anos em 2”, eles mesmos dizem.

O mais grave, ainda: o risco de entrarmos na sinuca de bico do obscurantismo institucionalizado, por um governo fascista de ultradireitista, seja com eleições fraudadas, ou sem eleições, por meio de um novo golpe dentro do golpe.

2. A resistência pelo porvir. Teremos muito a fazer na reconstrução do país, após acabar a barbárie e restabelecermos a democracia, os direitos e a economia. Precisamos remover todos os escombros e reconstruir os sonhos, como fizeram aqueles agricultores e agricultoras na história que conto no livro.

3. A resistência por meio da agenda de lutas, para resgatar os direitos e as conquistas das políticas públicas recentes. Hoje a agenda mais importante de resistência é o enfrentamento contra o golpe jurídico e midiático e contra as fraudes e mentiras que presenciamos diariamente. A condenação e prisão do Lula é a expressão maior do golpe, com uma condenação criada sobre verdades fabricadas.

Hoje, lutar pela libertação do Lula é enfrentar a narrativa diária da mídia que está a serviço do capital financeiro, que são seus escravos esse governo entreguista, toda a grande mídia e todo o sistema de justiça que tem lado. E não é do nosso lado!

Por isso, Lula livre é a palavra de ordem de resistência!

Muito obrigado!