Livro que conta a a trajetória de agricultores e agricultoras familiares do Semiárido brasileiro, no interior do PI, revela a potência da Economia Solidária e da Tecnologia Social como ferramentas para a construção de uma nova sociedade, com inclusão social e produtiva. São milhões de pessoas que hoje estão à margem do processo criativo e produtivo, e que pela organização social e política, podem construir o Desenvolvimento Sustentável que queremos para o nosso país.
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Abaixo, segue texto com referência sobre a motivação de ter produzido esse livro, e que apresentei no evento de lançamento.
Minhas
motivações para produzir esse livro: Afirmação, Disputa e
Resistência
A
Motivação pela Afirmação
1.
A afirmação do percurso de intelectual e de militante. Essa
minha trajetória foi construída nos movimentos sociais, sindicais e
políticos que participei e militei, desde a juventude.
Já
em Brasília, tive a oportunidade de trabalhar na
Fundação BB, em parceria com grandes figuras, como Jacques Pena
e Jorge Streit, entre tantos outros companheiros valiosos.
Construímos
um trabalho focado na geração de trabalho e renda, com
ênfase nas regiões mais pobres do Nordeste, o que fica evidenciado
no livro, com a descrição do Vale do Rio Guaribas, no interior do
PI.
Conhecer
aquela realidade me intrigou e me levou a estudar sobre aquele
processo de desenvolvimento que participávamos, isso no
mestrado, entre 2009/2010. E, com o incentivo do meu professor e
desorientador, Ricardo Neder, trabalhei desde o ano passado na edição
desse livro.
2.
A afirmação dos agricultores e agricultoras
familiares e das instituições públicas:
personagens e instâncias que me surpreenderam. Pois toda a retórica
e entendimento do senso comum é que tudo é difícil de mudar: que a
cultura “deles”, do rural, não permite rompimento com o
estabelecido, fruto da pobreza profunda daquela região nordestina; e
que a burocratização das instituições públicas é crônica.
No
entanto, os agricultores e agricultoras mudaram sim a sua
realidade e a realidade em seu entorno, o que conto no livro. Saíram
de um estado de semiescravidão, e construíram de fato uma nova
economia; deixaram o passado de meia dúzia de donos e comerciantes
de mel e caju, para mais de mil famílias serem as protagonistas da
produção, beneficiamento e comercialização dos frutos de seu
trabalho, por meio de um sistema complexo de cooperativas e
centrais de comercialização. A Cocajupi e a Casa Apis são a
expressão dessa revolução silenciosa ocorrida no Semiárido
brasileiro.
Da
mesma forma, a partir de 2003, aconteceu uma mudança
com um punhado de instituições: Embrapa, Emater e outros
órgãos nos Estados, Codevasf, CONAB, BNDES, o próprio BB,
Ministérios e tantos outros. Os dirigentes dessas organizações
estavam comprometidos na busca de alianças e na superação das
barreiras burocráticas, o que possibilitou um avanço jamais visto,
um entrosamento entre entidades do Estado e as cooperativas que
floresciam naquele período.
3.
A afirmação das políticas públicas do governo Lula.
E essa química que aconteceu, entre agricultores e instituições,
só foi possível porque houve uma determinação de governo, para
que houvesse um olhar e a construção de políticas públicas para
superação da miséria e da pobreza, por meio da inclusão social e
produtiva. Esse é o grande mérito dos governos Lula, e seguido por
Dilma.
Poderíamos
expor um rosário delas: Pronaf, PAA, Penae, Territórios da
Cidadania, Pronera, ATER, entre outras políticas fundamentais,
inclusive de âmbitos estaduais incentivadas pelo governo federal.
A
Motivação pela Disputa
1.
A disputa pela Economia Solidária.
Ela precisa ser entendida não como uma política e diretriz dirigida
aos pobres, mas sim, como a solução econômica viável na iminente
etapa de destruição total provocada pelo capitalismo. O mundo do
trabalho é o paradigma da nossa sociedade e, para existir
trabalho e renda é condição a participação do trabalhador como
personagem ativo e determinante na sociedade, como exemplifico no
livro, contando os resultados dos empreendimentos econômicos e
solidários da Casa Apis e da Cocajupi.
Hoje,
no Brasil, temos uma massa de PIA – pessoas em idade ativa
para o trabalho em mais de 160 milhões. Temos apenas 33 milhões em
empregos formais, e uns 34/35 milhões em empregos informais
declarados. Quer dizer, temos quase 100 milhões de brasileiros
“dando um jeito”, todos os dias, para não morrer de fome.
Fazer
da Economia solidária uma estratégia de desenvolvimento e de
inclusão social, parece-me, é o desafio colocado neste momento.
2.
A disputa pela Tecnologia Social.
Ela é a composição fundamental para a Economia Solidária, como
diz o professor Dagnino, da Unicamp: é a plataforma de lançamento
do foguete da outra economia.
A
agroecologia, as construções sustentáveis, os circuitos curtos de
produção e consumo, os sistemas de gestão participativa na
produção, o processo cooperativo e solidário de autogestão como
um todo, são os instrumentos que precisam contar com investimentos
de políticas públicas, para promover a geração
e distribuição de riqueza, para um contingente enorme de
trabalhadores excluídos do processo produtivo.
Da
mesma forma que precisamos de uma outra economia, precisamos de
uma outra tecnologia. Porque toda tecnologia e todo o
investimento científico, para seu desenvolvimento, são resultados
de uma decisão política. Assim, precisamos de uma ciência e
tecnologia que promova o ser humano e o meio ambiente, e não o lucro
das corporações.
3.
A disputa pelo Desenvolvimento Sustentável:
a cada dia o aspirador de pó do capital suga as riquezas comuns –
porque se o alimento é um commodity, na visão capitalista, a água
também será transformada – fazendo com que muitos não tenham
acesso.
A
privatização dos bens comuns segue forte, então, é preciso
fazer essa disputa sobre o tipo de sociedade que queremos: a
sociedade a serviço apenas do 1% ou uma sociedade para todos e todas
que navegam nessa nave?
Com
a vivência que tive junto aos agricultores do PI, pude
entender isso muito bem!
A
Motivação pela Resistência
1.
A resistência é necessária nessa conjuntura.
Infelizmente caímos no abismo. E pior, parece que o
buraco não tem fim. A cada dia mais direitos são sequestrados e um
contingente enorme de pessoas são jogas à margem da sociedade, sem
direitos, sem trabalho, sem entender o que ocorre, porque na rede
Globo e para o governo golpista, o Brasil está superando a crise. “O
Brasil voltou 20 anos em 2”, eles mesmos dizem.
O
mais grave, ainda: o risco de entrarmos na sinuca de bico do
obscurantismo institucionalizado, por um governo fascista de
ultradireitista, seja com eleições fraudadas, ou sem eleições,
por meio de um novo golpe dentro do golpe.
2.
A resistência pelo porvir. Teremos muito
a fazer na reconstrução do país, após acabar a barbárie e
restabelecermos a democracia, os direitos e a economia. Precisamos
remover todos os escombros e reconstruir os sonhos, como fizeram
aqueles agricultores e agricultoras na história que conto no livro.
3.
A resistência por meio da agenda de lutas, para
resgatar os direitos e as conquistas das políticas públicas
recentes. Hoje a agenda mais importante de resistência é o
enfrentamento contra o golpe jurídico e midiático e contra as
fraudes e mentiras que presenciamos diariamente. A condenação e
prisão do Lula é a expressão maior do golpe, com uma condenação
criada sobre verdades fabricadas.
Hoje,
lutar pela libertação do Lula é enfrentar a narrativa
diária da mídia que está a serviço do capital financeiro, que são
seus escravos esse governo entreguista, toda a grande mídia e todo o
sistema de justiça que tem lado. E não é do nosso lado!
Por
isso, Lula livre é a palavra de ordem de resistência!
Muito
obrigado!